O projeto “Do Nordeste a Nice: O oceano que nos une” foi lançado nessa quinta-feira (dia 5) na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Promovido pelo Consulado-Geral da França em Recife, ele tem como objetivo conscientizar sobre os desafios da preservação das águas e dos oceanos, destacando as iniciativas e as ações de cooperação desenvolvidas pelo Brasil e pela França. A iniciativa dialoga com as discussões que estarão presentes na III Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos (UNOC3), que ocorrerá de 9 a 13 de junho, na cidade de Nice.

“É uma grande honra para o Consulado Geral da França organizar esse evento dedicado à proteção dos oceanos e à cooperação entre a França e o Nordeste do Brasil. A mobilização faz todo sentido aqui no Nordeste porque ele possui o maior litoral do Brasil e, ao mesmo tempo, é uma das regiões mais vulneráveis aos efeitos do aquecimento global. A erosão costeira, a salinização dos aquíferos, a perda da biodiversidade, os impactos sobre as comunidades tradicionais são riscos reais que exigem respostas concretas. Mas felizmente há uma rica e crescente rede de cooperação entre França e o Nordeste do Brasil, vamos ver alguns exemplos disso”, iniciou o cônsul-geral da França em Recife, Serge Gas.

O vice-reitor da UFPE, Moacyr Araújo, participou do evento representando não apenas a instituição anfitriã do lançamento como também o IJL Tapioca (International Joint Laboratory ‘Tropical Atlantic Interdisciplinary laboratory on physical, biogeochemical, ecological and human dynamics’). O Laboratório Misto Internacional, que reúne pesquisadores da UFPE, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da França (IRD), é uma das iniciativas incluídas no projeto.

Professor do Departamento de Oceanografia e coordenador da Rede Brasileira de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima), Moacyr Araújo aproveitou a fala dele para fazer um panorama sobre o enfrentamento das mudanças climáticas e a situação dos oceanos neste contexto. 

“Nós tivemos uma grande guinada, que foi o Acordo de Paris, lá em 2015 (na COP21), que fez com que as nações se comprometessem a manter o aumento da temperatura abaixo de ou em até 1,5°C. Está muito difícil de conseguir isso, mas as metas continuam a ser perseguidas. Os oceanos começaram a aparecer de uma forma mais nítida sobretudo em Dubai (na COP28), quando conseguimos inseri-los no Global Stocktake, o relatório que acompanha a evolução do Acordo de Paris. Todos os países que assinaram o Acordo precisam reportar como está a saúde dos seus oceanos”, pontuou Moacyr, que destacou: “A situação está se acelerando. Tudo aquilo que se achava que aconteceria lá no final do século está começando a dar sinais agora, estes eventos extremos etc. A coisa está muito rápida. E o aumento do nível do mar é um problema seríssimo para uma cidade como Recife”. 

Durante o lançamento do projeto, a plateia também assistiu no auditório do i-Litpeg a mais três produções assinadas pela Agência Coreto. As quatro apresentam projetos desenvolvidos no Nordeste do Brasil que têm em comum a cooperação com instituições francesas, seja por meio de financiamentos da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), ou através de intercâmbios acadêmicos e científicos. 

Foram exibidas uma produção sobre o LABOMAR, da Universidade Federal do Ceará (UFC); outra sobre o PRÓ-MAR, desenvolvido na Ilha de Itaparica (BA); e outra sobre os projetos de saneamento e esgotamento sanitário realizados pela Companhia de Água e Esgoto da Paraíba (Cagepa) e pela Prefeitura de João Pessoa com apoio da AFD. Os vídeos foram realizados com apoio do Fonds de Soutien à l’Innovation Communication (FSIC), do Ministério da Europa e dos Assuntos Exteriores da França. Eles serão disponibilizados pela internet e utilizados como material educativo.

A cerimônia começou, no entanto, com uma apresentação musical do trio formado pela cantora lírica Vanessa de Melo e os músicos Ruti Freitas (violão) e Vitor Castanheira (bandolim). Os estudantes do curso de Música da UFPE apresentaram Veleiros, de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), e Súplica cearense, de Luiz Gonzaga (1912-1989).

Em seguida, começaram os discursos. Após a fala do cônsul-geral da França em Recife Serge Gas, foi exibido o vídeo com a mensagem do embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain. “Estaremos muito felizes em receber o presidente Lula em Nice, ao lado de representantes de outros Estados. Temos uma oportunidade histórica de garantir que os oceanos estejam plenamente integrados às políticas climáticas, tanto nacionais quanto internacionais”, afirmou, mencionando a realização da UNOC3.

Em outro momento da cerimônia, a presidente da Fundação do Amparo a Ciência e Tecnologia (Facepe) Fernanda Pimentel, que estava representando a secretária de Ciência, Tecnologia e Inovação de Pernambuco, Mauricélia Montenegro, citou exemplos da colaboração entre pesquisadores pernambucanos e franceses.

O deputado estadual João Paulo (PT) falou sobre questões como a importância de se elaborar modelos de transição energética que considerem os impactos na população local. “No momento em que desafios ambientais ganham cada vez mais urgência, iniciativas como as apresentadas hoje têm um valor particular. O lançamento do projeto Do Nordeste a Nice: o Oceano que nos Une, aqui na UFPE, representa uma oportunidade de fortalecer laços entre países, instituições e territórios, conectando saberes locais a uma agenda global que diz respeito a todos nós: o futuro das águas nos oceanos e da vida no planeta. Quando falo em ambiente, falo também em justiça social. Não existe preservação do meio ambiente que não passe pelo cuidado com as pessoas”, destacou João Paulo.

A educação ambiental foi lembrada pelo secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Recife Oscar Barreto, que citou a elaboração de uma Política de Sustentabilidade Hídrica para a capital pernambucana. “O enfrentamento da poluição plástica tem a ver com aqueles que mais sentem essas mudanças climáticas, as comunidades pesqueiras. Sejam os pescadores de Nice, de Portugal, da Indonésia... Os principais atingidos dessa política que alguns do obscurantismo insistem em manter e a que nós insistimos em resistir. Cada um que está aqui tem responsabilidade. A temática desse encontro, os oceanos, é da nossa vida como seres humanos. O Recife é uma cidade das águas e temos que entender como cuidar disso”, conclui.

CONFERÊNCIA – Organizada pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas (DESA), a UNOC3 será sediada pela França e Costa Rica. O principal objetivo do evento global é acelerar a implementação do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14: Vida na Água. Ele estabelece metas para conservar e promover o uso sustentável dos oceanos, mares e recursos marinhos até 2030.